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VIDA QUE SEGUE

  • Foto do escritor: Rodrigo Ramos
    Rodrigo Ramos
  • 20 de jun. de 2022
  • 2 min de leitura

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Depois do desquite virei durante uns três meses um ser rastejante, era uma choradeira sem fim, aquele período em que o luto é realmente traumático. O problema é que fiquei viciado em chorar, a gente vira emo sem entender como isso tá acontecendo. Eu choro vendo profissão repórter, novela, filme, choro lendo, no chuveiro, acordando, cozinhando, fazendo faxina choro pra valer... Bebendo eu não choro mais, incrível como a noitada me acalma o coração, sinto toda a liberdade entrando no meu peito junto com a nicotina, mas de forma nenhuma isso é algo isento de culpa.


Pare de fumar, pare de beber: eu a ouço dizer. Uma voz interior que me lembra o jeito da senhorita ex, cheia de juízo, correta, do bem, comedida, centrada, ou seja, uma tremenda mala.


Memória afetiva isso daí, até me acostumei com ela, mas comer o pão do diabo todo dia não dá, é insuportável só sofrer, resolvi que ia me liberar pra conhecer novas pessoas e isso foi muito bom, por um lado, vi que sou capaz de conhecer gente legal, gente boa. No entanto percebi que a doidice atingiu a grande totalidade do mundo e a construção de uma intimidade com alguém, próxima da que eu tinha, é algo tão distante que me cansa só de pensar em recomeçar. Até quero, mas pequenas coisas me irritam e eu, sou consciente, irrito muito profundamente também, às vezes sinto prazer em irritar.

Vida que segue! Todo mundo vive me dizendo isso e é por aí, de repente eu olho pra sala e aprecio a companhia silenciosa das minhas plantas, gosto do cheiro da madrugada, dá roupa empilhada sem passar, dos livros que eu espalhei pela casa, dos desenhos da Kláu em cima da estante, mas tudo ainda é muito vazio, a coisa perde o sentido mesmo, a gente vive que nem puta, pelo dinheiro e é isso.

 
 
 

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