Tratamento do Silêncio
- Rodrigo Ramos
- 8 de dez. de 2022
- 2 min de leitura

Tudo que eu posso fazer é aceitar, eu não tenho mais recursos para destruir o meu próprio ego. Como em todo mundo, minha identidade é uma região desconfortável, o que acho que sou é uma tentativa de me redimir, na verdade sou a inversão daquilo que me esforço pra ser, ou seja, sou também exatamente aquilo que detesto. Portanto me culpar por todos os problemas do relacionamento nunca foi tarefa difícil. Por muitos meses sentir-me responsável pelo fracasso da minha vida conjugal foi, sem dúvidas, minha atividade favorita.
Vou explicar melhor! Existem conflitos internos que nos desorganizam... A moral, por exemplo, é aquela voz perversa que acusa o golpe quando você acorda de ressaca sem lembrar de nada e te recrimina por ter sido um tremendo filho da puta. Também tem aquela coisa ideal que nos escapa, um sonho de vida perfeita que desmorona, porque a gente sabe bem que ser filho da puta faz parte do comportamento humano. Só mesmo um grandessíssimo filho da puta narcisista não percebe o quão tóxico é. Então, eu sei bem que não sou uma pessoa fácil, cheiro a cigarro com amaciante, bebo cerveja como quem espera abrir um portal da arrogância, mas prefiro vinho... Provoco as pessoas além do limite, racismo mesmo é um assunto que deixa todo mundo sequelado, a branquitude não aguenta ouvir a verdade e poucos pretos sabem realmente elaborar o tamanho do problema e, enfim, ninguém suporta, esse é o ponto da identidade, a realidade é insuportável.
Acontece que eu continuo verbalizando a coisa, acho que sempre farei isso, inclusive é um conselho que eu te dou: nunca deixe o silêncio dominar a sua relação, com quem quer que seja, fale! O silêncio pode ser a maior violência que existe, é uma medida passivo agressiva, abusiva e que te deixa na merda da depressão... Quando alguém fizer isso com você e te deixar afundar na neve e na culpa, reconheça seus erros, mas não permita que a frieza congele teu amor. Também não admita o extremo inverso: a dissimulação, uma pessoa fingida é tão terrível de lidar quanto uma pessoa gelada e silenciosa.



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