Escritos Marginais
- Rodrigo Ramos
- 20 de out. de 2022
- 3 min de leitura

No meu ponto de vista existe apenas uma forma de buscar bem-estar social no Brasil, mesmo porque há em todos nós certa inadequação aos modelos culturais que foram pré-estabelecidos, um incômodo natural, ou seja, no individual ninguém vai viver uma vida de alegria constante. O desejo vai prevalecer insaciável e a insatisfação será contínua, já que estaremos sempre em falta, desejosos por algo distante, além de que a natureza pode ser cruel. Então que o processo e reflexão é sobre melhorias na concepção que temos de sociedade.
Portanto, meu foco é sempre na educação. É a única forma não violenta de resolver esse embaraço causado pela cristalização dos valores coloniais que sofremos nas Américas.
Só admitir que a colonização foi brutal e que o genocídio dos povos nativos, aqui no país, foi elaborado com requintes de crueldade e que a indiferença com a questão da qualidade de vida dos negros e negras marginalizados pós-abolição, empanturrados de escravidão, servindo de moeda para as já endinheiradas famílias brasileiras, fato real, já não tem mais graça! E nem é suficiente...
Acredito que não podemos viver iludidos de que o passaporte da felicidade é uma conta bancária recheada de dólares (apesar de ser bem legal quando você vem de uma cena totalmente fodida) enquanto a miséria de nossos antepassados ressignifica uma ferida aberta que naturaliza com o maior cinismo possível, já denunciado diversas vezes por sociólogos e estudiosos, a condição dos indígenas, também pretos e pretas no Brasil.
É rotina brutal não haver dentro de palacetes, prédios empresariais, clubes, chácaras, restaurantes, condomínios, enclaves fortificados entre vários desses espaços, nenhum constrangimento das pessoas com a falta de diversidade, elas (penso) nem ligam, a cabeça delas parece que não funciona... É de certa forma irritante, nesse sentido a quebrada é mais atraente, não fosse a completa falta de recurso, concentrado nas mãos dessa elite pintada e travestida de sucesso com roupas de grife que custam mais do que o salário mínimo e um discurso de merda, requintado e entediante, de uma futilidade inescapável, o que gera uma depressão generalizada, porque o ser humano é triste quando percebe em seu íntimo o tamanho da própria burrice.
Nesses lugares de pessoas pseudoilibadas e evoluídas observamos crioulos, seres retintos, moças amorenadas de cabelo crespo em situação subserviente, os indígenas são tratados como anomalias selvagens, quando melhor são vistos numa alegoria fetichista. É lamentável! Vê-los com alguma representatividade nas empresas que postulam entre as melhores do país, um sonho que tenho, é algo de rara exceção. Nessas companhias o retrato de fim de ano mostra: homens e mulheres brancas, que jamais conseguirão imaginar a luta da mulher negra no Brasil, certamente um território inimigo para a preta que tem que provar seu valor incansavelmente, já que o estereótipo caricato da empregada doméstica veste os filhos dela como bandidos e traficantes.
Essa gente preta tem uma linhagem que corre em minhas veias, recebo de herança o ritmo e a pulsação, riquezas da terra e força do peito. Pra melodia quero beijos intermináveis entre os meus, afinal sequestraram até mesmo nosso amor por nós mesmos! Por outro lado, essa postura cirandeira de paz contra o escancarado fascismo tupiniquim não vai funcionar, prefiro mais uma dose, porque além de não existir fomento da educação para as classes marginalizadas no país, a classe média e a elite abastada desse lugar são grupos de egoístas e ignorantes. Enfim, acho que se continuarmos nessa escalada social rumo ao consumo desenfreado, a mediocridade estará sempre à espreita pra sabotar a nossa prosperidade, é preciso educar não para comprar carros e imóveis, é preciso educar pra emancipar a alma de preconceitos que aprisionam nosso pensamento.



Comentários